Você já teve a sensação de que, quanto mais sabe sobre um assunto, mais difícil fica tomar uma decisão? Esse paradoxo é mais comum do que parece — e provavelmente você já viveu isso, mesmo sem perceber.
Neste post, vamos explorar como o conhecimento técnico pode ser um aliado poderoso, mas também um fator complicador na hora de escolher. E por que, às vezes, a ignorância pode até parecer mais leve.
Quando menos é mais: o caso do celular do meu pai
Outro dia, conversando com minha esposa, usei um exemplo simples, mas bastante ilustrativo.
Meu pai queria comprar um celular novo. Ele foi à loja, olhou alguns modelos, avaliou o preço e escolheu o que achou mais bonito e “dentro do que podia pagar”. Simples assim.
Já eu, com um repertório técnico maior, não consigo comprar um celular sem antes passar dias pesquisando:
- Comparativos de processador
- Diferenças entre painéis de tela
- Testes de desempenho
- Câmeras em diferentes condições de luz
- Autonomia de bateria
- Atualizações do sistema operacional
- E claro, os melhores preços possíveis para cada modelo
O resultado? Uma escolha mais técnica, sim. Mas também muito mais demorada, desgastante e até frustrante, principalmente se o modelo ideal estiver fora do meu orçamento naquele momento.
O notebook que me ensinou mais uma lição
Não faz muito tempo, meu notebook queimou. Fui pesquisar outro pra comprar e me deparei com preços altos. Quando mostrei à minha esposa, ela simplesmente jogou no Google e apontou: “Olha esse aqui, por que não pode ser esse mais barato?”
Minha resposta foi automática:
“Porque esse não tem as especificações técnicas que eu preciso.”
Ela não estava errada em tentar simplificar. Mas eu também não estava errado em manter meus critérios técnicos. O ponto é: meu conhecimento me trouxe clareza… mas também me colocou limites.
A maldição do conhecimento
Na psicologia cognitiva, isso é conhecido como a “maldição do conhecimento”. Quanto mais sabemos sobre algo, mais difícil é ignorar aquilo que sabemos — e mais complexas se tornam nossas escolhas.
Conhecimento amplia nosso repertório, mas também aumenta o número de variáveis consideradas, o peso das decisões e a cobrança interna por escolher “o melhor”.
Essa pressão pode gerar:
- Paralisia por análise
- Frustração quando não se pode alcançar o ideal
- Desgaste mental por excesso de opções
- Dificuldade em aceitar soluções simples e “boas o suficiente”
E na gestão? Isso também acontece.
No ambiente corporativo, esse paradoxo aparece o tempo todo. Um gestor experiente, com conhecimento técnico, pode ficar mais travado na hora de:
- Escolher uma ferramenta nova
- Delegar uma tarefa para alguém com menos domínio técnico
- Implementar uma mudança “não ideal”, mas viável
- Tomar uma decisão com base em cenário incompleto
Enquanto isso, alguém com menos repertório toma decisões mais rápido — e, às vezes, tem mais paz com os resultados.
Então... o que fazer?
A resposta não está em saber menos, mas sim em administrar melhor o nosso conhecimento. Algumas dicas práticas:
- Aceite que nem toda decisão será perfeita — e tudo bem.
- Estabeleça critérios mínimos, não máximos para cada decisão.
- Evite gastar energia técnica com escolhas que não exigem tanto.
- Valorize o “bom o suficiente” quando o ideal estiver fora do alcance.
- Reserve sua análise profunda para decisões realmente estratégicas.
Conclusão
Saber demais não é um problema. O problema é não saber dosar o quanto desse saber aplicar em cada decisão.
A sabedoria está em reconhecer quando a complexidade ajuda — e quando ela só atrasa, trava e cansa.