A 8ª edição do manual da Joint Commission International (JCI) trouxe atualizações importantes em várias áreas, e uma das mais estratégicas é, sem dúvida, o capítulo HCT – Health Care Technology. Ele reconhece que a tecnologia não é apenas suporte operacional: é parte integrante do cuidado. Quando bem gerida, ela potencializa a segurança, a rastreabilidade e a eficiência dos processos assistenciais.
O capítulo cobre desde a aquisição de equipamentos médicos até o uso de inteligência artificial, sistemas de apoio à decisão clínica, telessaúde e cibersegurança. Sua proposta é garantir que a tecnologia seja usada com responsabilidade, supervisão humana e alinhamento aos objetivos clínicos da organização.
O que diz o capítulo HCT da JCI?
O capítulo está dividido em seis padrões principais, cada um com foco em aspectos específicos da gestão tecnológica em instituições de saúde:
HCT.01.00 e HCT.01.01 – Supervisão da tecnologia médica
Esses padrões tratam da gestão dos dispositivos e equipamentos usados na assistência ao paciente. Isso inclui:
-
Inventário atualizado de tecnologias críticas;
-
Análise de risco e criticidade;
-
Manutenção preventiva e corretiva;
-
Monitoramento contínuo do desempenho dos equipamentos;
-
Qualificação e capacitação dos profissionais que os operam.
HCT.01.02 – Telessaúde
Este é um padrão inédito, que formaliza os cuidados com serviços remotos. A JCI exige:
-
Políticas e protocolos bem definidos;
-
Garantia da qualidade e da segurança da assistência à distância;
-
Consentimento informado dos pacientes;
-
Proteção da privacidade e confidencialidade dos dados.
HCT.01.03 – Ferramentas de apoio à decisão e Inteligência Artificial
Outro padrão novo que reflete a realidade atual das instituições. Aqui, a JCI destaca:
-
Necessidade de supervisão contínua por profissionais qualificados;
-
Avaliação crítica dos algoritmos utilizados;
-
Garantia de que a tomada de decisão final continue sendo humana;
-
Monitoramento dos impactos clínicos e operacionais da IA.
HCT.01.04 – Planos de contingência
Este padrão exige que a organização esteja preparada para falhas tecnológicas. As instituições devem:
-
Ter planos documentados para inatividade de sistemas;
-
Garantir recuperação rápida e segura das operações;
-
Realizar testes periódicos e revisões de cenário.
HCT.01.05 – Segurança cibernética e proteção de dados
Uma das maiores novidades da nova edição. O padrão trata de:
-
Políticas formais de segurança da informação;
-
Controle de acessos e rastreabilidade de usuários;
-
Capacidade de prevenção, detecção e resposta a ataques cibernéticos;
-
Treinamento contínuo das equipes sobre riscos digitais.
HCT.02.00 – Equipamentos com radiação óptica
Voltado à segurança no uso de lasers e equipamentos eletrocirúrgicos. Reforça o cuidado com:
-
Treinamento especializado;
-
Uso de equipamentos de proteção individual;
-
Procedimentos padronizados para prevenir danos aos pacientes e à equipe.
Tecnologia é estratégia, não coadjuvante
O capítulo HCT coloca a tecnologia no centro da estratégia institucional. Isso significa que não basta adquirir equipamentos de ponta ou adotar sistemas inovadores — é preciso garantir governança, segurança e integração ao cuidado clínico.
Hospitais e clínicas que buscam acreditação JCI devem demonstrar:
-
Que dominam o ciclo de vida da tecnologia usada;
-
Que há processos bem definidos e documentados;
-
Que cada tecnologia adotada gera valor real para o cuidado ao paciente.
Mais do que conformidade, compromisso com a excelência
Alinhar-se aos padrões do capítulo HCT não é apenas uma exigência da JCI — é um passo rumo a uma cultura organizacional que valoriza a qualidade, a previsibilidade e a confiança nos processos assistenciais.
A tecnologia salva vidas. E quando gerida com responsabilidade, ela transforma o cuidado em excelência.